segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um dos maiores inconvenientes desta crise é a avalanche de artigos sobre a crise e a cultura, como a crise pode ser boa para a cultura ou de como a cultura pode tirar a crise da crise. O impacto das crises, das convulsões sociais ou da saúde financeira das economias na criatividade (primeira e última vez que menciono esta palavra) é tema recorrente e apetecível, mas um pouco estéril. É tentador procurar encontrar ligações entre uma dimensão e outra. A história recente da cultura popular é pródiga nesta possibilidade de nexos: a fartura e estabilidade dos anos 50 e a geração de baby boomers nos anos 60 dos EUA, a Inglaterra deprimida dos finais dos anos 70 e o nascimento do punk, a crença cega no mercado livre dos anos Thatcher e a emergência de Damian Hirst e companhia, ou a aposta nas indústrias criativas e na marca cool britannia e um certo apogeu cultural e criativo (primeira e última vez que menciono esta palavra) dos artistas britânicos nos anos 90. Cá em Portugal temos também bons exemplos dessa discussão. Os anos de boom bolsista do final dos anos 80 e o aparecimento de inúmeras galerias de arte e a emergência de uma classe de coleccionadores em Portugal. Ou os mandatos de Rui Rio na Câmara do Porto e “o deserto cultural” que se diz que o Porto é. Parece-me – parece-me – que hoje em dia não há grandes ligações entre o estado da economia e a criação (coisa diferente são as subvenções financeiras provenientes do Estado ou do sector privado às instituições culturais que dependem da maior ou menor disponibilidade das respectivas carteiras, sem que necessariamente tenham impacto na qualidade da criação). Querem um país e cidades criativas? Limpem as ruas, criem condições para se andar na rua a qualquer hora, bons transportes, criem boas escolas de formação artística, ponham os filhos fora de casa cedo ou mandem-nos estudar para cidades diferentes daquelas onde cresceram.

A este propósito ver também o artigo de Simon Reynolds na Fact.

Sem comentários:

Enviar um comentário