quinta-feira, 16 de abril de 2009

Out-grandfathered

Num dos dos seus Bilhetes de Colares, A. J. Kotter referia-se a um casal de portugueses, a viver no estrangeiro, que todos os anos regressava a Portugal porque este país era um dos poucos sítios aonde a morte ainda não passou à clandestinidade e isso “era óptimo para as crianças”. Paradoxalmente (e evitando considerações do género "cada país tem os mortos que merece"), parece que, nesta terra, produzimos vidas pouco coloridas e padecemos de uma certa incapacidade de as celebrar. Bem, a ausência de obituários na nossa imprensa ou o aparente desinteresse pela vida dos nossos mortos torna as nossas vidas mais desinteressantes. Para além disso preferimos os virtuosos. Uma vida de zigzagues, trambolhões, asneiras e cabeçadas na parede é muito melhor. Um dia destes morreu um dos netos do Freud e irmão do Freud. Nasceu na Alemanha, antes da guerra, foi deputado inglês, cozinheiro, jornalista, escritor, radialista e mil e uma outras coisas. Morre pobre, mas aparentemente feliz. Deixa uma mulher, 5 filhos e uma óptima garrafeira. Os jornais celebraram-no.

1 comentário:

  1. Post muito bom, e o artigo do Guardian também. É como te digo que dizia o outro: "Consistency is the last refuge of the unimaginative".

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