sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Vibrations
São poucas as revistas de música (em papel ou nas suas edições online) que conseguem não repetir os presses da semana, ou que conseguem evitar a fúria antecipatória que caracteriza a crítica musical contemporânea. Queremos ser os primeiros a ouvir aquela banda, aquele disco, queremos estar mais tentos que os outros. Dentro desta corrida tornou-se tudo igual e raras são as vezes em que somos tranquilamente surpreendidos com novidades relevantes, daquelas que ensinam e ajudam a descobrir coisas MESMO novas, daquelas que fazem andar o mundo. A revista suiça Vibrations vai cumprindo essa função bastante bem, o blog é alimentado pelo grande Joel Vacheron e vale a pena ir prestando atenção.
Uma sugestão da Vibrations, que não me sai dos altifalantes, A Boom Bap Continuum... ten years of beats from '99 to '09
domingo, 24 de janeiro de 2010
O Marl.On mandou-me dois links óptimos, uma mistura nova, feita por ele, perfeita para ouvir Domingo de manhã e um pequeno filme feito na A-1 Records em East Village, NY, lojinha lendária, local de pechinchas imperdíveis, descobertas pedagógicas e entranhadora de pó.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
The Happy Tourist
Sympathy and tolerance, acquisitions of great price, are the reward of your journeying. Having mixed much with your fellow men, you view mankind from a new angle and have gained the charitable outlook that only comes with seeing the world. And, as you grow older, you will be ever better company for yourself, having remembered, what so many of us forget, that, to have pleasant memories then, we must contrive for them now. At any rate, there is small risk of you becoming that miserable thing, a disappointed man, nor will it ever be said of you, as it was of one who wasted his life: "his days should have been a rosary of priceless pearls, and he let them slip through his fingers like beads of common glass".
The Happy Traveller
Revd. Frank Tatchell, 1923
Vamos acreditar que sim. Afinal foram so tres semanitas.
The Happy Traveller
Revd. Frank Tatchell, 1923
Vamos acreditar que sim. Afinal foram so tres semanitas.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Cidades
Esta e a primeira vez que venho a um sitio visitado pela "Expansao". Nao faco a minima ideia como sao os outros (incluindo Madeira e Acores). Pangim e bastante diferente da India que conheco. E calma, organizada, quase limpa e tem imenso estilo, apesar de ser um pouco melancolica. Nao leiam aqui ponta de nostalgia, porque nao ha. O sitio e muito bonito e a natureza aqui e trepadeira. Trepa edificios, trepa pela mente, trepa pelas pernas... E technicolor, bem cheirosa e ruidosa. Ve-se uns senhores e umas senhoras a falarem portugues como o Antonio Silva e a Beatriz Costa e umas aceleras com o autocolante de Portugal. O facto do futebol nao ter grande importancia (apesar de Goa ter um campeonato e os jornais nos dizerem que o Sporting Clube esta a travessar uma crise...) poupa-nos aos sosias do CR7. So vantagens portanto. Espreitando para dentro das casas, no bairro das Fontainhas, veem-se bandeiras e chachecois de Portugal e volta e meia um fadito a sair de la de dentro. Os edificos sao muito bonitos, as estradas largas e quadricularmente organizadas, e a cidade faz sentido. Os edificios nao parecem fora do sitio. Bombaim, por exemplo, cidade com muito sol e mar, nao e luminosa e temos a agradecer aos ingleses por isso. E uma cidade repleta de edificios vitorianos, um estilo que nem na sua terra natal e bonito que se torna ainda mais insolito numa cidade quase tropical. Aqui, tudo cospe luz, cor com a vantagem de nos ser entregue de forma mais ou menos organizada. Mais ou menos e perfeito.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Triunfalismos
Somos informados diariamente que a India, a China e o Brasil sao os paises do futuro (parece que a Russia ja nao faz parte dos calculos) e este tipo de afirmacoes tem consequencias na vida interna e na consciencia dos cidadaos destas nacoes. Rapidamente emergem os discursos triunfalistas, discursos estes que podem assumir varias formas, incluindo Presidentes choroes (vd. Lula aqui a atrasado, por ocasiao da escolha do Rio para os Jogos Olimpicos). A India nao esta imune a esta retorica e somos relembrados recorrentemente dessa caminhada pelos jornais. Os jornais sao extraordinariamente baratos e os conteudos oscilam entre a maior ou menor atencao dada ao terorismo interno (e a resposta impecavel do governo), aos crimes e as estrelas de Bollywood (que estao em todo o lado e ate ja conheco umas caras). A seriedade com que estes assuntos sao tratados varia de jornal para jornal (garantem-me que o jornal The Hindu e o mais serio e com o melhor ingles), mas duas coisas sao comuns a todos: a certeza de saberem que o peso do pais (geo estrategico, politico, economico, demografico) cresce a cada dia que passa - "a maior democracia do mundo" - e uma vaga crenca na excepcionalidade indiana resultante do legado de Ghandi (ha um entusiasmo semelhante com o Primeiro Ministro Singh, "a good man"). Conheci num autocarro um jornalista que me disse entredentes que nao escreve aquilo que quer e que poucos jornalistas na India o fazem (mas se colocar a mesma questao a um jornalista portugues provavelmente receberei a mesma resposta). Nao conheco, nem vou a tempo de conhecer, a 'verdadeira India' (nem me vao ver dizer aqui que a 'India e um pais de contrastes', porque ate nem acho que o seja), mas esta terra deixa um tipo baralhado, embora na certeza que algum do proximo futuro passara por aqui.
sábado, 9 de janeiro de 2010
Comboios
Todos crescemos com imagens da India: o Mogli, os elefantes, os tigres de Bengala, o Sandokan, a pobreza e, entre muitas outras coisas, os comboios. Era uma das coisas que esperava com mais expectativa e sim, e uma das mais extraordinarias experiencias que um jovem impressionavel pode viver. Durante aquelas horas (e podem ser muitas; o trem chega quando chegar) a imersao na India e quase total. Nao experimentei nem 1a nem 2a classe, mas dizem-me que a coisa e mais asseptica. Experimentei 3a classe e sleeper e, nestas classes, quando falo de imersao refiro-me as trocas de comida (os guias bem dizem para nao aceitarmos nada), baratas (nao duas ou tres, mas dezenas delas sem medo, trepando pelas pernas acima), os cheiros, as dormidas, os olhares fixos em nos e um tipo a pensar 'o que e que eu fiz?', as longas conversas com as pessoas do lado, os questionarios a que somos sujeitos, etc etc. Nao tenhamos ilusoes, e uma grande porcaria, mas e divertido (e ironico) em tempos de gripes suinas, geles desinfectantes e instrucoes para lavar as maos.
Leituras
Um dos fenomenos mais engracados de viajar na India e a lista oficial de leituras. Toda a gente (os turistas e viajantes, entenda-se) le os mesmos 5 livros. Uma especie de canone orientalista digest. Shantaram de Gregory David Roberts (a historia veridica de um australiano fugido da prisao que acaba como taxista, membro da mafia, actor em bollywood, a viver nas slumvilles de Bombaim), Midnight Children do Salman Rushdie, O Deus das Pequenas Coisas de Arundhati Roy (hoje em dia transformada em paladina da democracia; acabei de ler a versao pirata/fotocopiada comprada na praia da sua colectanea de ensaios sobre a democracia indiana. Nao fosse o tom meio histerico, tipo Naomi Klein, seria um relato ainda mais assustador), White Tiger de Aravind Adiga, e Maximum City de Suketu Mehta. Paulo Coelho e Stig Larsson tambem sao populares na praia. Em Palolem, de entre dezenas de vendedores ambulantes e micro trapezistas, ha um senhor que passeia com estes 5 livros na mao esquerda (sim, cabem todos) e uma pasta de executivo na mao direita com mais exemplares. Aquilo que todas as empresas de estudos de mercado e tendencias andam a assinalar ha uns tempos (que o mercado dos bens culturais neste momento consiste em dois extremos: de um lado os blockbusters e bestsellers, um conjunto reduzido de titulos, filmes, discos que vendem em gigantescas quantidades e do outro lado, os nichos, aqueles bens que sobrevivem da 'cauda longa' que a internet veio proporcionar) pode ser comprovado na praia de Palolem (outrora paraiso na terra). Um mundo de extremos e nada no meio.
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