segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O Jonas tem falado nos últimos tempos sobre a pequena cena que timidamente emerge em Peckham, mais ou menos à volta da Hannah Barry Gallery. Costuma-se dizer que quando se atribui a palavra cena a uma cena é porque esta já está em sentido decrescente. É a altura em que os supostos pioneiros dizem que a cena ‘já não é o que era’ (fenómeno semelhante aos comentários sobre a Costa Vicentina, metade da nação portuguesa diz que ‘já não é o que era’). A sequência bairro degradado-rendas baixas-artistas a precisar de espaço-primeiras festas e manifestações artísticas-word of mouth-visitantes curiosos-investimento e dinheiro-recuperação-lojas e bares-especulação imobiliária-gentrificação-já os primeiros vão bem longe –, repete-se. Em cidades como Londres, em que o mercado de arrendamento é suficientemente liberal e há uma massa crítica estes fenómenos acontecem regularmente. Nas nossas cidades acontecem fenómenos semelhantes, mas muito mais raramente e a um ritmo muito menor (vide o Porto neste momento, no eixo Miguel Bombarda-Cedofeita-Carlos Alberto-Clérigos; ou em Lisboa, a uma escala mais pequena, na Lx Factory). Rapidamente vão aparecer pessoas e grupos menos interessantes a apropriarem-se dos locais e da ‘cena’, mas isso é o menos importante, porque inevitável. Importante é ver e perceber (embora os ensinamentos daí retirados sejam dificilmente replicáveis) como estes fenómenos acontecem. Parece que já assistimos a esta história - os bairros renascidos da miséria, as cenas artísticas que emergem de um local contra todas as probabilidades - mil e uma vezes mas há sempre diferenças. É extraordinário ver a idade do núcleo promotor de Peckham, todos bem abaixo dos 30. Uma vez, um artista inglês e professor na Goldsmith na altura de Damien Hirst e Sarah Lucas explicava-me que a razão para aquilo ter acontecido, como aconteceu, com aquele grupo de pessoas estava relacionado - para além de uma feliz coincidência de um número de estudantes talentosos acima da média ter decidido estudar ali; parte dos Blur também andavam por lá, curiosamente - com o relativo isolamento geográfico da escola (o que impedia distracções), passando o grupo muito tempo junto, em condições bastante precárias (a escola estava muito deteriorada) e o facto de ninguém andar de táxi (biclas e transportes públicos, nada de hábitos sociais-democratas).